Internet brasileira ainda está aquém da existente nos EUA
Luiz Molento estava no grupo que fundou a entidade
Um dos pioneiros da internet no Brasil e fundador da Abranet, Luiz Molento, antes de empreender na rede das redes, havia trabalhado como gestor de TI na empresa CBPO, do grupo Odebrecht, circulando por 12 países.
“Eu tinha contato com todo nível de tecnologia, de infraestrutura, conhecia muito bem o que existia no Brasil e, quando a Embratel lançou o seu primeiro canal de internet, em 95, eu falei: “nossa, isso é o futuro!”. E, aí, passei a estudar bastante sobre internet”, contou em entrevista em vídeo para o especial de 25 anos da fundação da Abranet.
Molento disse que pesquisou o que estava ocorrendo nos Estados Unidos para montar o plano de negócios. Ele montou a Itanet e firmou parceria com a NetCom, que era o maior provedor de internet dos Estados Unidos para clientes residenciais. “Eu fiquei na Itanet durante um ano e quatro meses e depois fui contratado pelo Grupo Folha/UOL para montar a AcessoNet. Mas foi durante 1996 que tudo praticamente aconteceu, que eu conheci pessoas que estavam ligadas ao meio da internet, como o Dr. Antônio Tavares, o Demi e outras pessoas de importante renome, algumas que já não estão mais conosco, bem como pessoas que cuidavam da infraestrutura”, lembrou. Daquelas conversas surgiu a ideia de montar uma associação.
Enquanto os Estados Unidos já entregavam conexões residenciais e, principalmente, para empresas, circuitos com 24 canais de telefonia, no Brasil era linha por linha em fio de cobre, contou Molento. “Lá eles tinham o padrão T1 e no Brasil nós tínhamos o padrão E1. Só que nós não tínhamos fibra ótica instalada, não tínhamos os E1 implementados e não havia empresa no Brasil com infraestrutura maior do que 10 linhas,15 linhas. Eu fui a primeira vez pedir linha na Telefonica e pedi 400 linhas para poder fazer o meu primeiro provedor e eles falaram “você está louco! Não existe isso no Brasil” e eu falei “não existia, porque agora vai passar a existir”. E eles passaram uma fibra ótica na avenida Paulista só para me atender”, relembrou.
Para Molento, entre os principais marcos da história da internet brasileira está a norma 4 e também o advento das linhas digitais E1 e o entroncamento entre os diversos provedores e operadoras de telecomunicações. “Antigamente, somente a Embratel tinha canal IP, então, você era obrigado a se conectar com a Embratel para poder fazer com que um provedor enxergasse o outro e que os assinantes de um provedor enxergassem os assinantes dos outros provedores. Tivemos que mudar a questão da comutação telefônica, porque era linha discada e a comutação telefônica para uma ligação de voz dura cinco minutos, já para uma ligação de internet durava uma hora. As centrais telefônicas não estavam preparadas”, pontuou.
Para contornar esta dificuldade, foi necessário fazer uma remodelação, inclusive, do entroncamento entre as centrais telefônicas. “As operadoras tiveram que se remodelar; esse foi um grande passo. O segundo foi a interconexão, que era muito difícil. Nós não tínhamos equipamentos no Brasil, todos eram importados, e a maioria dos profissionais não era qualificada para trabalhar com internet”, relatou. Para Molento, a privatização das telecomunicações no Brasil foi um momento fundamental, porque a partir dali a competição e a oferta aumentaram.
“Quando eu já estava lá no UOL, nós fizemos a afiliação de 350 provedores com a criação da AcessoNet. Tínhamos mais de 100 mil portas de acesso em 70 localidades no Brasil. E isso fez com que, no fim de 1997, eu tivesse aqui no Brasil dentro do UOL o que eu tinha visto lá nos Estados Unidos na NetCom em 1995”, comparou Molento.
Ainda que a internet tenha se desenvolvido no Brasil, Molento afirmou que acredita que o país ainda mantém uma defasagem de aproximadamente cinco anos em relação ao mercado dos EUA. “A internet no Brasil se desenvolveu bastante, muito, nós saímos da questão do acesso, passamos para a área de serviços e concentração de dados, os data centers, as interconexões de redes, mas nós ainda não temos a capacidade instalada que os Estados Unidos, por exemplo, têm”, explicou. Outro ponto a ser melhorado é a regulamentação, que vai atrás da tecnologia e, segundo ele, no Brasil, o tempo é ainda maior.
Ao fazer um balanço da evolução da internet, Molento destacou que estamos vivendo a era da transformação digital, do blockchain, da inteligência artificial, do machine learning, da internet das coisas. “Quando a máquina superar o homem, o homem vai perder o controle das coisas, e aí a máquina pode decidir que o homem é um problema”, disse.