“Mesmo o menor dos provedores deverá adequar todos seus sistemas para IPv6”

30 de junho de 2014

por Roberta Prescott

“Mesmo o menor dos provedores deverá adequar todos seus sistemas para IPv6”
Com o esgotamento dos endereços IPv4, que acaba de atingir o limite máximo previsto de quatro bilhões de endereços do protocolo internet e entra, agora, na fase de esgotamento, as empresas precisam apressar a adoção da nova versão. Para esclarecer algumas dúvidas sobre a implementação do IPv6 e entender os custos atrelados à adoção, Ricardo Pierini, CSO (diretor de segurança) da Pinpoint, empresa brasileira especializada em gerenciamento e soluções de TI e redes, respondeu algumas questões enviadas pelo portal da Abranet.  - A migração para IPv6 exige investimento de recursos, tanto em Capex quando em Opex. Como se dá este investimento?Ricardo Pierini: O investimento em IPv6 deve ser exatamente o mesmo dos investimentos reservados para o IPv4, isto é, na homologação de novos equipamentos, no treinamento das equipes, no planejamento estratégico ou na adoção de novas tecnologias, que deverá ser considerado sempre o protocolo IPv4 e IPv6. E as empresas e entidades que iniciarem essa mudança de mentalidade mais cedo, certamente sentirão muito menos o impacto desse investimento em seu negócio. Por exemplo, se um provedor investiu recentemente na renovação do seu parque de equipamentos (Capex) e o fabricante escolhido não suporta IPv6 ou suporta IPv6 parcialmente, será necessário replanejar e refazer o investimento para poder suportar o novo protocolo. Por isso é muito importante começar a planejar a implantação de IPv6 o quanto antes. A mesma lógica pode ser aplicada para os investimentos em treinamento ou processos. Uma empresa que treina seus funcionários da área de suporte técnico para análise de problemas com IPv4 deve programar investimentos para capacitar esta equipe de suporte para suportar também o protocolo IPv6.  - O custo pode inibir que provedores menores migrem para IPv6. Qual é a recomendação?Pierini: É importante ressaltar que não existe uma migração [completa] para o protocolo IPv6. Por muitos anos os protocolos IPv4 e IPv6 deverão conviver juntos para permitir uma transição gradual e tranquila para o protocolo IPv6. Mesmo o menor de todos os provedores deverá adequar todos os seus sistemas (equipamentos, aplicações, processos, etc.) para também trabalhar com o protocolo IPv6. Isso permitirá que todas as entidades de todos os tamanhos (provedores, empresas, instituições, entre outros) continuem oferecendo seus serviços de forma a atender a necessidade de seus usuários. - Com relação à segurança, quais são os riscos de não se adequar?  E por quê?Pierini: Com o esgotamento dos estoques de IPv4, surgirão mais e mais aplicações que apenas suportarão (ou com melhor qualidade) somente o protocolo IPv6. Em aproximadamente dois anos, um provedor que não suportar IPv6 não suportará um conjunto de aplicações, o que finalmente, implicará direta e consideravelmente na qualidade do serviço de conexão à internet oferecido aos seus clientes. Na prática, é como se um provedor oferecesse acesso à internet, mas por meio deste acesso não fosse possível conectar-se ao Google, Facebook ou qualquer outra aplicação que ainda poderá surgir. - Para contornar a falta de endereços IPv4, os provedores estão usando técnicas de compartilhamento. Como elas funcionam?Pierini: Como a quantidade de endereços IPv4 disponíveis diminuirá ainda mais com o passar do tempo, faz-se necessário compartilhar um endereço IPv4 com vários usuários diferentes em uma técnica conhecida como carrier-grade NAT ou CG-NAT. Existem diversas técnicas diferentes desenvolvidas para suportar um conjunto grande de aplicações, tanto para que redes somente IPv6 (que não possuem IPv4) possam acessar redes somente IPv4 como também ferramentas que permitem que uma rede IPv4 acesse sistemas hospedados somente com IPv6.  - Há risco na adoção destas técnicas?Pierini: A utilização destas técnicas de compartilhamento durante a transição implica um custo direto para o provedor na aquisição de equipamentos e recursos para implantar a solução (custo este que aumenta na medida em que aumentam seus usuários). Há também o custo indireto para os usuários, que fatalmente enfrentarão problemas de compatibilidade de suas aplicações com as técnicas de compartilhamento. Por exemplo, aplicações muito utilizadas atualmente, como acesso às redes peer-to-peer (P2P) ou voz sobre IP (VoIP), poderão deixar de funcionar adequadamente através do uso de CG-NAT.  - Quais são as barreiras para a adoção de IPv6?Pierini: Uma das principais barreiras era a disponibilidade de endereços IPv4 que permitia a criação de uma “zona de conforto” ou “acomodação” para todos os provedores. Esta barreira foi superada no último dia 10 de junho, quando a reserva de endereços IPv4 do LACNIC (entidade responsável pela administração e alocação de recursos de internet para a América Latina, incluindo o Brasil) alcançou quatro milhões de endereços e a nova política de alocação — que permite apenas uma única alocação de 1024 endereços por entidade a cada seis meses — entrou em vigor.

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