Harari e a Inteligência Artificial: Reflexões sobre Democracia e o Futuro da Sociedade

21 de outubro de 2024

por André Queiroz *

Harari e a Inteligência Artificial: Reflexões sobre Democracia e o Futuro da Sociedade
A entrevista de Yuval Noah Harari com Andrew Ross Sorkin, realizada pela Big Think em 2023 (veja o vídeo no final do texto), não apenas traz uma análise profunda (e visionária) sobre o impacto da inteligência artificial, mas também levanta questões que deveriam nos fazer refletir sobre o futuro da sociedade e de nossas democracias. Harari, como sempre, é incisivo ao apontar a contradição humana: alcançamos feitos notáveis, como a ida à lua e a criação da IA, mas ao mesmo tempo estamos constantemente à beira da autodestruição. No cerne da sua análise, está a ideia de que o problema fundamental não é nossa natureza humana, mas sim a qualidade da informação que consumimos e como ela influencia nossas decisões. Ao assistir à entrevista, fica claro que o avanço da IA, para Harari, não é apenas uma questão tecnológica, mas profundamente política e social.  Ele alerta sobre a IA poder ser usada como uma poderosa contadora de histórias, manipulando massas com narrativas não baseadas na verdade, mas em fantasias que atendem a interesses específicos. Isso nos faz questionar: estamos prontos para lidar com as consequências dessa revolução digital? Será que, como sociedade, estamos equipados para discernir entre o que é real e o que é fabricado por algoritmos? Além disso, Harari propõe que a verdadeira ameaça não está apenas no mau uso da IA por humanos, mas na possibilidade de que a IA, com o tempo, passe a tomar decisões por conta própria, além de nosso controle. Isso é assustador, especialmente quando pensamos no quanto nossas vidas já são moldadas por algoritmos invisíveis em redes sociais, buscas na internet e, em breve, até em decisões políticas. Andrew Ross Sorkin, ao provocar Harari com questões sobre a regulação dessas tecnologias, nos convida a refletir sobre como podemos garantir que a IA sirva à humanidade, em vez de se tornar uma força descontrolada. No entanto, como Harari bem aponta, a criação de regulamentações é apenas uma parte da solução. O que realmente precisamos são instituições ágeis, capazes de acompanhar a velocidade com que essa tecnologia avança. A entrevista nos desafia a pensar: o que estamos fazendo para garantir que a IA seja usada para o bem coletivo? Será que estamos sendo passivos em relação ao papel crescente da tecnologia em nossas vidas, permitindo que ela se desenvolva sem a devida supervisão? Harari nos lembra que, embora a IA possa melhorar áreas como saúde e segurança, também pode agravar a manipulação de massas e o controle social. Diante disso, é crucial que cada um de nós, como cidadãos, participe ativamente dessa discussão. A revolução tecnológica que está acontecendo não pode ser deixada apenas nas mãos de governos ou empresas. A pergunta que fica é: estamos prontos para enfrentar os desafios éticos e sociais que a IA nos impõe? E, se não estivermos, o que podemos fazer agora para garantir que o futuro que Harari vislumbra – um futuro dominado por narrativas criadas pela IA – não se torne uma realidade distópica? É um convite para refletirmos sobre o papel que desempenhamos nesse cenário. Não se trata apenas de abraçar as novas tecnologias, mas de garantir que seu uso esteja alinhado com valores humanos fundamentais, como a verdade, a liberdade e a justiça. O futuro está sendo moldado agora, e é nossa responsabilidade influenciar essa trajetória. Nós, na Abranet - numa parceria com o ITS- lançada em junho deste ano a Consulta pública onde perguntamos a cada um de vocês (depois de perguntarmos a nós mesmos) o que queremos da IA? Participe e ajude a construir a IA que o brasileiro quer, precisa e merece. Acesse: www.oquequeremosdaia.com.br * André Queiroz é diretor de inteligência artificial da Abranet

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