Data center é o novo ar-condicionado ligado 24h

18 de agosto de 2025

por Redação The Shift

Data center é o novo ar-condicionado ligado 24h

A demanda gigantesca por energia dos data centers de IA é tanto risco quanto oportunidade, no cenário da transicão energética global. O risco está na sobrecarga dos sistemas, que ainda se adaptam à entrada crescente de energia solar e eólica. E a oportunidade, em ancorar novos investimentos em geração, redes e flexibilidade, conforme aponta o relatório “New Energy Outlook 2025”, da BloombergNEF.

 

O relatório é uma atualização para o cenário-base da BNEF sobre energia – o Economic Transition Scenario (ETS) – mirando especialmente os próximos dez anos, com três ênfases: 

  1. A pressão da IA e dos data centers sobre a demanda de eletricidade.

  2. A força econômica de renováveis e da eletrificação veicular.

  3. A necessidade de tornar 2035 um “checkpoint” real de ambição climática via NDCs (as novas metas nacionais sob o Acordo de Paris).

O cenário econômico de transição projeta adoção robusta de energia limpa (solar, eólica) e eletrificação do transporte rodoviário (veículos elétricos) nas próximas décadas, tudo isso puxado por fundamentos de custo, maturidade tecnológica e difusão geográfica. A contrapartida é um declínio de longo prazo em carvão e petróleo, enquanto o gás natural ainda cresce em segmentos e geografias específicas.

 

No novo cenário, as emissões de energia caem 22% até 2050 (retornando a níveis de 2005). Traduzindo em números: essa trajetória é compatível com aproximadamente 2,6 °C de aquecimento até 2100 (com 67% de confiança), distante, portanto, da meta original de 1,5 °C. O recado é claro: apenas os fatores econômicos e as políticas já vigentes não bastam para alinhar o mundo às metas de Paris.

 

 

Hora do vai ou racha

O estudo atualizou as estimativas de política e custos (energias limpas e fósseis) e introduziu um capítulo específico sobre o impacto dos data centers no sistema elétrico. Ou seja, não é só “mais do mesmo”: há reponderação de custos, políticas e carga. O levantamento também registra que as emissões globais estão prestes a iniciar uma descida longa (uma “inflexão” do pico), reforçando a leitura de que a transição já existe – só não é rápida o suficiente sem política adicional.

 

Este ciclo de NDCs exige metas para 2035, a serem apresentadas em 2025, antes da COP30 no Brasil. O estudo sugere que o período 2025–2035 é o “vai ou racha” (“make it or break it”): é nele que países precisam materializar, de fato, o ganho econômico de renováveis (e sua integração à rede) para que as curvas de emissões dobrem na velocidade certa.

 

Entre os países que já apresentaram a terceira NDC, o texto destaca que o Brasil (e o Reino Unido) definiu metas para 2035 mais ambiciosas do que a trajetória do cenário Net Zero (NZS) da própria BNEF.

 

 

Mais alguns insights:

  • Geração renovável cresce 84% até 2030 e dobra novamente até 2050.

  • A participação das energias renováveis atinge 67% da eletricidade global em 2050 (vs. 33% em 2024). 

  • Fontes fósseis (carvão/gás/óleo) caem de 58% para 25% da geração elétrica no período, com queda de 21% na geração fóssil absoluta. 

  • Entre 2025 e 2035, entram 6,9 TW de energia solar e 2,6 TW de energia eólica. 

  • Flexibilidade do sistema: em 2050, aproximadamente 4.300 TWh de flexibilidade vêm do lado da demanda (EV smart charging, demand response) e cerca de 6.100 TWh de tecnologias “despacháveis” (baterias, gás-peaker, PCH reversível), somando acima de 20% da demanda global. 

     

O estudo reconhece que barreiras regulatórias, de conexão e desenho de mercado podem reduzir a “entrega real” vs. o “o ideal econômico” do ETS até 2030–2035, especialmente para eólica e armazenamento.


Conteúdo originalmente produzido e publicado por The Shift.
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