As empresas erram mais da metade das vezes ao escolher seus futuros líderes

08 de setembro de 2025

por Redação The Shift

As empresas erram mais da metade das vezes ao escolher seus futuros líderes

Identificar os talentos de alto potencial dentro da organização deveria estar na lista de prioridades não apenas da área de Pessoas e do RH, mas na pauta das conversas entre C-levels e nas reuniões do board. Só que não: um relatório recente do Talent Strategy Group mostra que falta critério, método e processo na identificação e desenvolvimento de talentos.

Para começar: 84% das empresas realizam avaliações regulares para medir o potencial de seus colaboradores, mas a precisão média com que acertam quem irá progredir é de apenas 44%. Isso significa que, na maioria das vezes, as organizações erram (e muito) em suas apostas sobre as pessoas que irão desempenhar funções mais complexas e de alto impacto. 

Pelo menos 65% das empresas não oferecem diretrizes claras sobre quantos talentos podem ser designados como “altos potenciais”, abrindo espaço para vieses, favoritismos e inconsistência nas avaliações. Apenas 37% das organizações relatam que funcionários de alto potencial possuem um plano de desenvolvimento. Somente 42% das organizações fazem a avaliação até o nível 4, que é o nível CEO. E pensando em que tem que aplicar as avaliações, apenas 23% das organizações ofereceram treinamentos obrigatórios sobre como avaliar o potencial, e 27% não ofereceram qualquer treinamento.

O relatório “2025 Potential Report” aponta que essas falhas têm muito a ver com a abordagem que as empresas usam para avaliar, gerenciar e desenvolver as pessoas com maior potencial. traz insights sobre os aspectos do potencial talento, baseado no feedback de mais de 300 empresas em todo o mundo. Em paralelo, a McKinsey aponta que a maioria das empresas falha em investir com profundidade no desenvolvimento real de lideranças. “Fábricas de líderes” bem estruturadas são exceção, não regra.

 

 

Falta clareza: o peso das regras não escritas

Muitos programas ainda operam com modelos genéricos ou ultrapassados. A maioria das empresas não adota um modelo estruturado de consultorias reconhecidas – 61% dos entrevistados do levantamento da Talent afirmaram não usar modelos formais como os da Korn Ferry ou SHL.

Quando usam, os critérios mais frequentes são:

  • Desempenho consistente
  • Agilidade de aprendizado
  • Capacidade cognitiva
  • Engajamento
  • Desejo de crescer

O problema é que esses critérios raramente são aplicados com rigor ou alinhados à estratégia futura da organização: 62% das empresas não consideram o alinhamento entre o potencial individual e a direção estratégica da empresa. Um exemplo é o da mobilidade geográfica. Em 44% das empresas que exigem mobilidade para cargos de liderança, essa exigência não é comunicada de forma explícita. Ou seja, só se descobre quando está na hora de fazer as malas.

Isso reforça o alerta presente neste artigo da Harvard Business Review: muitas organizações usam critérios informais e subjetivos para definir quem avança. Pior: o rótulo “alto potencial” frequentemente serve como prêmio “simbólico” para evitar que grandes talentos saiam da empresa, e não como base real para desenvolvimento estratégico.

 

 

Reconhecimento: o elemento esquecido

À falta de clareza sobre talentos soma-se outro fator crítico no desenvolvimento de pessoas: a ausência ou escassez de reconhecimento. O “2025 State of Recognition Report” mostra que apenas 19% dos trabalhadores recebem reconhecimento semanalmente – uma queda acentuada em relação a 29% em 2024. E o impacto disso vai na contramão da motivação e a construção de pertencimento, que é fundamental em qualquer iniciativa de retenção.

Trabalhadores que se sentem reconhecidos são:

  • 9 vezes mais propensos a sentir pertencimento
  • 6 vezes mais propensos a enxergar uma carreira de longo prazo na empresa
  • 2,6 vezes mais produtivos

Reconhecimento de gestores, especificamente, gera os maiores impactos: aumenta em 19 vezes a confiança no líder e em 16.5 vezes a probabilidade de recomendar a empresa.

A solução está em quatro frentes

O artigo “Building Your Organization’s Next Generation of Leaders” da Harvard Business Review propõe um caminho viável e estruturado para resolver essa crise de clareza e impacto. São quatro pilares:

1. Redefina o que é “potencial”

Pare de rotular as pessoas como “alto” ou “baixo” potencial. Pergunte: “Para que tipo de liderança essa pessoa tem potencial?”. O potencial deve ser específico, vinculado às necessidades futuras da empresa e não genérico.

2. Valorize experiências, não só programas

Cursos e treinamentos são importantes, mas só experiências reais – como missões desafiadoras e rotações entre áreas – preparam líderes de verdade. O futuro CEO da Target, por exemplo, passou por operações, inteligência de negócios e merchandising antes de assumir a liderança.

3. Torne o desenvolvimento parte da cultura, não um projeto paralelo

O desenvolvimento de lideranças deve ser parte do dia a dia da empresa, com metas claras, envolvimento do RH e participação dos líderes. Um exemplo citado foi o de uma empresa que atrela o bônus dos gerentes à apresentação de planos de desenvolvimento de seus liderados.

4. Reforce o compromisso a partir do topo

C-levels devem estar ativamente envolvidos no mapeamento, desenvolvimento e acompanhamento dos talentos. Se os executivos tratam a liderança como algo periférico, nenhum processo irá funcionar de forma duradoura.

O que as empresas devem fazer agora

Diante dos dados e das falhas mapeadas, construir um pipeline confiável de líderes exige um novo mindset e ações concretas:

1. Implementar avaliações com base em ciência

Utilize modelos comprovados e defina critérios claros, que incluam:

  • Desempenho consistente
  • Agilidade de aprendizado
  • Alinhamento com a estratégia futura
  • Aspiração e engajamento

 

2. Investir na formação de gestores como avaliadores de potencial

Apenas 35% das empresas têm treinamento obrigatório para gestores avaliarem potencial – e isso precisa mudar.

 

3. Ampliar a transparência

Se alguém for rotulado como alto potencial, deve saber disso – e o que precisa entregar. A opacidade corrói o engajamento.

 

4. Criar uma cultura de reconhecimento

Reconhecimento regular deve ser tratado como imperativo de gestão, com metas claras, ferramentas acessíveis e métricas acompanhadas pelo RH.

 

5. Dar visibilidade aos “mavericks”

Como destaca a McKinsey, inovadores e inconformistas muitas vezes estão à margem  – e precisam ser identificados, encorajados e testados com experiências reais de liderança.


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