Mulheres: competentes no currículo, mas obrigadas a “editar” a própria voz

08 de outubro de 2025

por Redação The Shift

Mulheres: competentes no currículo, mas obrigadas a “editar” a própria voz

Durante décadas, as mulheres foram assediadas com as cobranças sobre assumir um perfil “mais profissional” no trabalho (lembra de “Mad Men”?). Com a IA Generativa, encontraram uma nova ferramenta: elas estão usando ChatGPT, Copilot, Claude e outros chatbots para “mudar o tom de voz ou vocabulário” em suas comunicações, antes de enviá-las.

 

A prática, conhecida como code-switching, engloba desde ajustes no tom de voz até mudanças no vocabulário e uso de expressões para parecer mais profissional ou competente, mesmo já sendo. A diferença agora é “calibrar” a conversa, para parecerem mais assertivas, confiantes, mas não agressivas, conta o artigo da Axios, utilizando uma pesquisa da Preply que ouviu 1.800 mulheres profissionais nos EUA.

 

O levantamento aponta que 82% das mulheres entrevistadas mudam seu estilo de comunicação no trabalho. Quase dois terços das mulheres se sentem pressionadas a usar uma “voz de trabalho”, e 1 em cada 6 já foi orientada a mudar seu tom ou estilo de comunicação no ambiente profissional. Essa adaptação, no entanto, pode ser emocionalmente desgastante: um terço das mulheres relata sentir-se “inautêntica” ao usar essa voz, e 1 em cada 4 diz que isso é exaustivo emocionalmente.

 

 

A prática do code-switching varia conforme a posição ocupada e o setor de atuação. O levantamento identificou que:

  • Mulheres em cargos mais altos tendem a fazer menos code-switching.
  • Hospitalidade e Turismo lideram o ranking, com 94% das mulheres relatando mudanças na fala em hotéis, agências de viagem etc.
  • Serviços Alimentícios (93%) e Serviços Profissionais (89%) vêm logo em seguida.
  • Varejo (88%) e Imóveis (84%) completam o Top 5 da lista.
  • Construção civil (70%) e Setor Sem Fins Lucrativos (76%) apresentam os menores índices de mudança.

A hipótese é que setores com maior interação com clientes demandam uma performance comunicacional mais “amável e polida”, enquanto setores mais técnicos ou sociais permitem mais autenticidade na fala.

 

Comunicação alterada: do tom de voz à informalidade

Fora do trabalho, muitas mulheres liberam aspectos mais naturais de sua comunicação. Entre os elementos mais alterados:

  • Uso de gírias – 56%
  • Sarcasmo  – 55%
  • Palavrões – 53%
  • Mais humor – quase 50%
  • Uso de muletas linguísticas e risadas mais intensas

Essas mudanças são compreendidas como adaptações ao contexto formal corporativo, já que no trabalho, a maioria das mulheres sente que precisa ser extra-formal “para ganhar respeito”. A IA pode ajudar a aliviar a tensão, mas não tira a responsabilidade das organizações de construírem espaços mais inclusivos. Lembrando que é nos espaços de segurança psicológica e acolhimento que as ideias inovadoras surgem mais facilmente.

  • Quase 28% dos empregos ocupados por mulheres em todo o mundo estão em risco devido à IA, em comparação com 21% dos empregos ocupados por homens, de acordo com um relatório das Nações Unidas. O levantamento indica que as mulheres representam 29% da força de trabalho global em tecnologia e ocupam apenas 14% dos cargos de liderança da área.
  • O relatório “Gender Snapshot 2025” aponta que acabar com a lacuna digital de gênero “poderia beneficiar 343 milhões de mulheres e meninas, tirar 30 milhões da pobreza extrema, melhorar a segurança alimentar de 42 milhões e gerar US$ 1,5 trilhão em crescimento global até 2030”.

Conteúdo originalmente produzido e publicado por The Shift.
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