Quando a nuvem pesa no caixa

15 de outubro de 2025

por Redação The Shift

Quando a nuvem pesa no caixa

Empresas de todos os setores estão ampliando o uso de tecnologias sob demanda — nuvem, SaaS e IA Generativa — para ganhar agilidade, inovar e competir. Mas um novo estudo global da Capgemini alerta: custos crescentes, falhas de governança e ROI aquém do esperado podem transformar essa ampliação em perda de lucratividade e queda de desempenho. 

 

O levantamento, feito com mil executivos em 14 países e 12 setores, projeta que os gastos em TI vão subir de 4,3% para 5,9% da receita já no próximo ano, com a fatia de tecnologias sob demanda saltando de 29% para 41% dos orçamentos. Para 77% dos entrevistados, a escalabilidade da nuvem é condição crítica para crescimento. Mas, na prática, o retorno não acompanha a velocidade dos investimentos.

 

Oito em cada dez lideranças relatam aumentos expressivos em nuvem, SaaS e GenAI, e 61% admitem que o gasto descontrolado já pressiona a rentabilidade. Em média, 76% das empresas ultrapassaram seus orçamentos de nuvem em 10%, 68% estouraram o previsto com GenAI e 52% com SaaS. Ao mesmo tempo, apenas 29% alcançaram as economias esperadas com SaaS, 33% obtiveram a qualidade de serviço projetada em nuvem e 38% aceleraram a inovação com GenAI. 

 

 

A lacuna entre promessa e entrega é explicada por problemas conhecidos: falta de visibilidade sobre custos (65%), falta de governança (56%) e recursos subutilizados ou superdimensionados (50%).

 

Aliás, o relatório expõe um problema de governança considerável: a compra de tecnologias digitais se tornou cada vez mais descentralizada. A maioria (98%) das lideranças de negócio admite adquirir tecnologia sem envolver a TI. Hoje, 59% dos gastos em GenAI e 48% em SaaS são decididos pelas áreas de negócio, e 12% dos gastos com SaaS sequer são gerenciados. O resultado é fragmentação tecnológica, duplicidade de custos e aumento dos riscos de segurança.

 

Outro ponto crítico é a soberania da nuvem. Pressionadas por tensões geopolíticas e regulações divergentes, 46% das organizações já incorporaram o tema em suas estratégias, e 42% dos executivos estão dispostos a pagar em média 11% a mais por soluções que assegurem conformidade e resiliência. Aqui, o gasto extra não é visto como desperdício, mas como seguro contra multas, sanções e vulnerabilidade regulatória.

 

Nesse cenário, o FinOps desponta como ferramenta de equilíbrio entre custo e valor. Mas ainda não cumpre seu papel estratégico. Embora três quartos das organizações (76%) tenham ou planejem estabelecer equipes de FinOps, a maioria mantém atuação restrita e operacional. Apenas 2% das organizações com função dedicada de FinOps cobrem nuvem, SaaS e GenAI de forma holística, e só 42% conseguem influenciar decisões de negócio.

 

A dimensão ambiental reforça o paradoxo. Mais da metade (53%) reconhece que o uso ineficiente da nuvem aumenta emissões de carbono, mas apenas 36% têm estratégia de “sustainable FinOps”, capaz de unir eficiência financeira e energética. Em ESG, assim como nas finanças, a conta também não fecha.

O estudo conclui que adotar tecnologias sob demanda não garante, por si só, vantagem competitiva. O verdadeiro desafio está em extrair valor sustentável desses investimentos — o que exige métricas claras de ROI, integração entre áreas e disciplina de governança. Sem isso, a corrida por inovação pode corroer margens em vez de fortalecê-las. O ponto crítico não é apenas migrar para a nuvem, mas governá-la.

 


Conteúdo originalmente produzido e publicado por The Shift.
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